A história dos Jardins Zoológicos é antiga, tão antiga quanto a própria adaptação do homem ao ambiente urbano. O homem tem mantido animais selvagens em cativeiros por milhares de anos. O gado domesticado se origina de progenitores selvagens que foram criados pelo homem para fins de alimento, transporte e proteção. Foi há aproximadamente 4 mil anos que os cães, cabras e carneiros foram domesticados pela primeira vez. As primeiras coleções de animais selvagens mantidos em cativeiro remontam vários milênios na Índia, China e Japão. Um dos exemplos mais antigos data de 5,5 mil anos no antigo Egito. Sabe-se que mantinham em cativeiro hienas, macacos e antílopes de diversas espécies, com base nas pinturas de Saqqara que datam de 5 mil anos. O Faraó Tuthomosis III (1.501-1.477 A.C.) enviou expedições à Somália para buscar macacos, leopardos e aves. O Zoológico de Schonbrunn, na Áustria, foi construído pelo imperador Francisco I em 1752 e iniciou uma nova era no conceito de zoológicos em termos de arquitetura de recintos, paisagismo e manejo de animais.
Foi na segunda metade do século XIX que apareceram inúmeros dos grandes zoológicos que existem ainda hoje. Excluídos os europeus, que são mais conhecidos dessa época, podemos citar o de Adelaide (1883), Adis Abeba (1866) e Djakarta (1864). O mais antigo da América é o de Nova York, de 1865, e o mais antigo sul-americano é o de Buenos Aires, iniciado em 1888.
Os zôos e aquários brasileiros
No Brasil, a história dos Zoológicos tem início em 1882 com o Museu Emílio Goeldi, em Belém do Pará, que inaugurou uma coleção de animais representativos da fauna amazônica anexa, seguida pelo Passeio Público de Curitiba no Paraná. Ainda por Antiguidade, temos os do Rio de Janeiro, de São Paulo, Porto Alegre e Brasília. Na década de 1960, aparecem muitos zoológicos no interior, mantidos por prefeituras. Em 1977, na cidade de Porto Alegre, foi criada a Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB), entidade não governamental que coordena e orienta o processo de evolução dos zoológicos nacionais.
Recentemente, se assistiu a um aumento de empreendimentos particulares tanto na exposição temática de animais terrestres como de aquáticos, junto a novos e bem organizados aquários. Hoje, são mais de 120 zoológicos e aquários distribuídos por quase todos os estados brasileiros, instituições estas que recebem mais de 26 milhões de visitantes por ano e são responsáveis pela manutenção ex-situ, fora do lugar de origem, de cerca de 40 mil exemplares da fauna selvagem.
Nossa missão
Se, no passado, a diversão justificou a criação dos primeiros zoológicos, hoje, a realidade é diferente. Mantidos sobre quatro pilares mestres, esses espaços trabalham incansavelmente em busca da educação, conservação, pesquisa e do lazer educativo. Podemos afirmar que a maioria dos zoológicos e aquários brasileiros já se enquadra nesta visão “moderna” de desenvolverem e apoiarem pesquisas para o conhecimento da biodiversidade ex-situ, se tornando uma ferramenta importante na conservação in-situ da fauna selvagem brasileira.
Exemplos como o do cervo de Padre David, na Oceania, do Cavalo Przewalski, na Polônia, do condor da Califórnia, nos EUA, do condor andino, na América do Sul, e do mico-leão-dourado, no Brasil, são provas inquestionáveis de que populações geneticamente viáveis e bem manejadas em zoológicos e aquários. Esses espaços são vitais para a recuperação de populações em extinção ou já extintas em vida livre. Todas as espécies acima mencionadas hoje vivem em liberdade graças a indivíduos criados em cativeiro e reintroduzidos em seu ambiente natural.
No momento em que o planeta passa por rápidas mudanças climáticas, os zoológicos assumem um papel ainda mais importante. É inegável que, com a incapacidade de adaptação às rápidas mudanças que ocorrem no planeta, cada vez mais espécies terão o cativeiro como único refúgio para a sobrevivência. Educar a população para uma convivência mais harmoniosa com o meio ambiente, reduzindo o consumo, reaproveitando as matérias primas e reciclando resíduos, é vital para desacelerar esse processo de mudanças pela qual o planeta passa.
A sociedade já reconhece esta nossa missão. Estudo recente realizado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia constatou que os zoológicos e jardins botânicos brasileiros são os espaços mais lembrados pelos entrevistados como locais informais para a divulgação da ciência. Já uma pesquisa recém publicada da Universidade de Warmick, na Grã-Bretanha, mostra que visitar o zoológico pode ser melhor para crianças aprenderem ciência e serem educadas sobre conservação da natureza do que o material e as aulas dentro da escola. O estudo foi conduzido com mais de 3 mil crianças com idade entre 7 e 14 anos. Os alunos foram perguntados sobre o quanto conheciam animais, habitats e conservação da natureza. O questionário foi passado aos garotos antes e depois de idas ao Zoológico de Londres. Do total, aproximadamente 53% delas foram afetadas pela visita e melhoraram o conhecimento científico sobre as espécies ameaçadas ou não de extinção. A preocupação com a conservação dos animais também aumentou, já que 39% das crianças afirmaram ter desenvolvido uma consciência sobre o problema após a ida ao zoológico.
Anualmente, durante o Congresso Brasileiro da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil, são apresentadas mais de duas centenas de trabalhos científicos desenvolvidos dentro dos zoológicos brasileiros. Grande parte é desenvolvida em parceria com universidades e institutos de pesquisa, reforçando a vocação e o valor dos zoológicos e aquários para a ciência.
Luiz Antonio da Silva Pires
Zootecnista formado pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Presidente da Sociedade de Zoológicos e Aquários do Brasil (SZB). Diretor do Parque Zoológico Municipal de Bauru.
www.szb.org.br